No fundo, é não distinguir as fontes de financiamento para fundo de maneio, ativo circulante, do financiamento estratégico para investimento, ativo não corrente.
Em boa verdade, tal é fruto de uma embriaguez de linhas de crédito no período covid, quando o mercado ofereceu operações de crédito entre 4 a 6 anos para financiar fundo de maneio, um contrassenso! Nos dias de hoje, e com o agravamento das taxas Euribor, esta situação resultou num desequilíbrio irracional.
Nas nossas avaliações e diagnósticos, verificamos nas contas de algumas empresas, entre 2020 e 2022, um desequilíbrio no balanço com crédito de médio/longo prazo a financiar inventários e saldo de clientes. Basicamente, os financiamentos de 4 a 6 anos foram utilizados para dar crédito a clientes e aumentar stocks, o que não é racional!
Com o agravamento dos preços, diminuição da procura e aumento da perceção de risco pelos bancos, empresas com este cenário terão dificuldades sérias para manter este ritmo, as margens não libertam e o potencial de dificuldade nas cobranças aumenta.
Uma correta e boa gestão do planeamento financeiro nas empresas passa por assegurar que as fontes de financiamento que custam dinheiro são utilizadas criteriosamente para a finalidade pretendida. Para isso, a negociação com os parceiros bancários é fundamental. Quem não sabe o que quer, dificilmente obterá os resultados que pretende…
Por isso, na avaliação de projetos de investimento, aquisição de novas instalações, financiamento de ramos de negócio, atividades complementares, entre outros, deve ser ponderada a criação de sociedades veículo que assumam, de forma independente no seu balanço e contas de exploração, o peso da dívida, não comprometendo assim a atividade nas empresas atuais maduras e com bons meios libertos.
É possível obter crédito para novas empresas, sociedades sem histórico, desde que o currículo do empresário/promotor seja reconhecido ainda que por outras áreas de negócio, que as garantias sejam adequadas e principalmente que o objetivo seja racional e percetível. No fundo, um bom plano de negócios assente no adequado diagnóstico deve responder aos credores: “como vão receber o seu dinheiro?”
Por isso, sempre que a gestão da empresa entenda ser o momento para adquirir ou construir novas instalações, sempre que estejamos perante a criação de uma nova ideia ou um novo ramo de negócio – complementar à atividade atual –, sempre que se inicie uma nova promoção imobiliária (habitacional ou não habitacional), deve realizar-se um diagnóstico e avaliar a criação de uma nova sociedade apenas para essa finalidade.
Assim, liberta-se um peso, por vezes nefasto, sobre a empresa comercial atual, que apesar de ter histórico vai assumir um peso no ativo e passivo que pode desequilibrar as contas, podendo no limite comprometer resultados futuros. Respeitar sempre a atividade core, no fundo o que sustenta tudo o resto!